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Prática do slackline em praças ganha cada vez mais adeptos

25/04/2015 - Atualizado em 25/04/2015 08h47

MANHUAÇU (MG) - Equilíbrio, concentração, observação, autoanálise e autoconfiança são alguns dos principais itens desenvolvidos com o slackline, na tradução “linha elástica”. Além destes benefícios, o esporte ainda trabalha musculação inferior e superior, é um importante exercício cardiovascular e aeróbico, proporciona contato com a natureza e, tudo isso, com um gasto bastante acessível aos praticantes. Com tantas vantagens assim, um grupo, que começou pequeno nas praças de Manhuaçu, vem ganhando cada vez mais adeptos. Seus integrantes hoje ainda participam de um importante projeto social, que visa levar a prática esportiva as crianças do bairro São Francisco de Assis.

No slackline, a ideia é simples: o atleta deve se equilibrar sobre uma fita de nylon, estreita e flexível, praticado geralmente a uma altura de 30 cm do chão. Segundo um dos idealizados do grupo em Manhuaçu, o tatuador Francisco Petronilho Rocha, o esporte começou com escaladores. “Às vezes eles, ou para se divertir ou para fazer pequenas travessias, esticavam a fita de um lado ao outro para atravessar, para puxar material e fazer qualquer coisa que facilitasse. Nesta distração, eles começaram a brincar de se equilibrar na corda, que era uma corda que proporcionava um melhor equilíbrio, um melhor jogo de balanço de cintura e eles, por serem atletas muito bem preparados fisicamente, tinham uma habilidade a mais, conseguiam fazer em grandes altitudes e em fitas muito longas, que é muito mais difícil”, explica.

Um dos praticantes do grupo e com objetivos de vir a competir, como boa parte dos adeptos em Manhuaçu, Francisco ressalta que o esporte se encaixa perfeitamente por exercita uma habilidade natural do ser humano, que é de se equilibrar.

Entre os benefícios, ele destaca que é uma importante atividade aeróbica, muito similar aos chamados exercícios funcionais, que é um tipo de exercício livre, no qual é utilizado o máximo do corpo, com o mínimo de equipamento possível. Além disso, o slackline também pode ser considerado um exercício de musculação, uma vez que entre as manobras faz-se agachamentos, levantamentos, alongamentos. “Isso proporciona um desenvolvimento muscular de postura, respiração e de controle do corpo”, explica.

Além do desenvolvimento físico, o esporte ainda trabalha a observação, autoanálise e a concentração. Francisco explica que é o poder de ter tudo ao seu externo chamando sua atenção e buscar ignorar e manter o foco em você, na sua capacidade, analisando o limite do seu corpo, respiração, etc. “Você vai percebendo que isso tudo vai evoluindo cada vez mais rápido com a ajuda do slackline, mas para tanto benefício é preciso dedicação”, ressalta.

Todo esse desenvolvimento físico e mental do esporte vai influenciando em outras áreas. Um dos integrantes do grupo, Eduardo Wener, é estudante de psicologia e desenvolve um estudo sobre a capacidade do slackline, com essas características, ajudar na neuroplasticidade, que são as reconexões neurais para pessoas que tiveram traumas físicos ou psicológicos.
 

Esse esforço pode variar dependendo do objetivo do atleta. Há  aqueles que querem só exercícios de concentração e posicionamento, como um agachamento, ajoelhar, sentar e deitar na corda, tudo mantendo o equilíbrio, sem encostar o pé no chão. Outros dão altos e piruetas, giros em 360 graus, caindo sentados, em pé, de peito,de costas, aproveitando o máximo de potencial da corda.

Também participante do grupo, Henrique Pagano, de 19 anos, pratica o espote há um ano ininterruptamente. Ele explica que a evolução física e mental que se pode perceber com o esporte o atrai muito. “De um ano de prática, evolui muito fisicamente. É bom para o corpo, concentração, força nos músculos inferiores e superiores, equilíbrio e autoconfiança. No primeiro dia, você não irá conseguir dar muitos passos, mas você sempre irá querer ir mais e mais. Depois que conseguir atravessar toda a fita, irá querer fazer algumas manobras e por aí vai”.

O atleta ressalta que também é um esporte de paciência. “É preciso ter calma e respiração. Se o praticante não respirar, irá ficar afobado e não vai conseguir equilibrar em cima da fita não”, destaca. Ele demonstra sua habilidade de um ano de treinamento com manobras como sentar e subir mantendo o equilíbrio, dar pulos, faz manobras de ioga, sai de peito e volto, entre outras. Detalhe: ele prática há uma altura de aproximadamente um metro e meio do chão.

PATROCÍNIO

Francisco explica que os materiais adequados para a prática do esporte seriam equipamentos já com uma boa avaliação do mercado, isto é, fitas que não irão arrebentar e ceder, catracas que vão suportar a pressão e o material de segurança, como protetores para os locais que serão amaradas as cordas, para que não tenha um desgaste do  equipamento à medida ele é amarrado em locais ásperos e não próprios para isso. “A gente sempre faz um sistema de segurança que chamamos de ancoragem ou backup, que é fazer uma segurança secundária, isto é, para que, caso venha a ter algum acidente, ele faça uma segunda proteção. Então a gente precisa de uma material mais específico para isso”, explica.

O atleta ressalta que é necessário um incentivo maior ao esporte, como um local adequado para a prática e treinamento dos integrantes do grupo. “Hoje utilizamos as gramas das praças porque ela é um amortecedor natural, assim como a terra fofa. Uma queda no cimento, por exemplo, pode causar lesões nocivas, uma batida, com o impacto, pode fraturar a ponta do cotovelo, pode fraturar o pé, o braço, um dedo. Na grama, o corpo cai mais tranquilamente, sem preocupar tanto em machucar. Como a gente explora os espaços públicos naturais, a gente tem que se adaptar as limitações, dificuldades, riscos e adversidades que encontramos. O ideal seria um espaço adequado, onde não incomodássemos a população e nem tivéssemos que lidar com eventuais problemas, como por exemplo, as gramas sujas, isto é, algumas pessoas sujam esse espaço público, utilizam como banheiro dos cachorros, esparramam todo tipo de comida, etc. E a gente tem que conviver com isso, tudo que precisávamos era de um espaço que tivesse uma proteção de amortecimento, como a areia por exemplo, que é algo super natural, é excelente para isso, a grama, e tem algumas pessoas que usam colchões ou tatames de artes marciais, que eles fazem o mesmo papel, que é de evitar lesões mais graves”.

Além de um espaço adequado, o material ainda é pouco para o tanto que o grupo vem crescendo e a aquisição não é tão simples. Falta acessibilidade desse tipo de material na região, então consequentemente, ele vem mais caro. O valor de cada fita, por exemplo, pode ultrapassar R$ 1 mil, dependendo de como será praticado. As cordas de boa qualidade, para iniciantes ,estão entre R$ 200 e R$ 300; as fitas para semiprofissionais (20 metros), na faixa de R$ 500; e fitas para 50 metros ou mais, que são as profissionais, podem ultrapassar R$ 1 mil. Mas esses são os casos dos equipamentos que levam o esporte a um outro nível de desenvolvimento, que é o montanhismo, o objetivo de alguns integrantes do grupo.

“A gente precisa fortalecer o grupo e ter esse incentivo para materiais e local específico para nós nos habilitarmos mais, para que possamos nos profissionalizar, participar de competições. É algo que irá trazer visibilidade para a cidade, para o projeto e para o esporte. Se tivermos melhores equipamentos, condições de segurança, acessibilidade e apoio, é impossível não dar certo”, declara o idealizador.

ENCONTROS
 

Os encontros dos integrantes do grupo ocorrem na Praça Dr. César Leite, em frente ao Colégio Tiradentes. A escolha do local é por ser uma praça menos movimentada e com uma área que proporciona a prática do esporte, onde a grama não é tão grossa e áspera e tem espaço suficientes entre as palmeiras, que são bem resistentes.

Sábados, domingos e feriados, às 14h, o grupo se reúne. Eventualmente, nos dias da semana, por volta de 20h, também ocorrem encontros. Francisco ressalta que à medida que gerar mais  interesse, to grupo irá expandir mais esses horários, papel importante do patrocínio também. “Com o fortalecimento do grupo, iremos buscar aumentar mais esses dias de treinamento”.

PROJETO

Além do treinamento nas praças, o grupo ainda participa de um importante projeto. Em parceria com o Centro de Apoio às Famílias (CAF), eles levam o esporte às crianças do São Francisco de Assis, antigo Campo de Avião.

A ideia nasceu com um dos integrantes, Eduardo, que por ter se voluntariado nessa instituição, demonstrou interesse e conseguiu o apoio do grupo a levar o slackline para o local.

Aos sábados pela manhã e a tarde, voluntários proporcionam as crianças o aprendizado e experiência através do esporte, colocando em prática essa teoria e filosofia de vida. “O nosso grupo está trazendo a oportunidade para muitas pessoas, então se tivéssemos um pouco mais de segurança, um espaço adequado, podemos fazer mais. O objetivo dos participantes vai além do ganho pessoal, queremos também proporcionar isso para os outros”, destaca Francisco.

Míriam, de 9 anos, já foi por duas vezes as “aulas” de slackline, e até dá dicas de como atravessar a corda sem cair, mas com o instrutor guiando com a vassoura. “A dica é jogar menos peso para a vassoura e equilibrar mais com os braços, o instrutor que me ensinou isso”, conta a garota. Ele declara que sentiu medo no início, mas que depois logo passou.

Já Samuel, também de 9 anos, ainda não conseguiu atravessar a corda sem cair, mas disse que pretende treinar até chegar nas acrobacias.

Os integrantes do projeto destacam que o CAF hoje atende crianças cadastradas e que tenham pontualidade e compromisso com a instituição, mas esporte tem, por uma questão de sensibilidade, aberto para outras crianças também, que, às vezes, não tinham interesse em participar do CAF, por alguma razão, acabam se interessando pelo esporte.

“A resposta tem sido muito positiva e estamos chegando a atender mais de 20 crianças, às vezes, 30 de uma única vez. Falta mais equipamentos, local mais adequado à segurança deles, isto porque, por enquanto, é provisório. Com um investimento maior, um patrocínio, possamos expandir o esporte aqui também e, de repente, pode-se criar mais de 20 atletas”, destacou.

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