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Segurança

Escola não sabia das provocações no Facebook

22/03/2013 - Atualizado em 22/03/2013 12h03

MANHUAÇU (MG) - O caso de bullying que acabou em morte em uma escola de Manhuaçu teve repercussões em toda a mídia nesta sexta-feira, 22. Em entrevista, a direção da Escola Antônio Welerson e a Superintendência de Ensino lamentaram o fato e justificam que não havia indícios de problemas entre os dois amigos. Nem os colegas de sala chegaram a comentar qualquer problema, muito menos a existência da faca na mochila de um deles.

Segundo o registro da Polícia Militar, um estudante de 16 anos foi assassinado depois de postar mensagens, usando a senha de uma rede social de um colega. O adolescente do ensino médio foi esfaqueado, chegou a ser socorrido, passou por uma cirurgia e morreu à noite, nesta quinta (21), no Hospital César Leite.

A diretor da Superintendência Regional de Ensino, Patrícia Fialho, diz que todo acompanhamento está sendo feito, mas considera o episódio externo a escola: “Estamos profundamente abalados e sensibilizados com a situação. Entendemos que foi um episódio isolado a partir de um conflito externo que foi ecoar lá dentro da escola. Realmente é um fato que nos deixou muito tristes ao saber o que aconteceu envolvendo dois jovens que eram da mesma sala, considerados amigos”.
Ela ressaltou que a escola está enlutada e a comunidade realmente muito chocada. “Vamos atuar junto aos alunos e profissionais da escola em função desse triste episódio. Estamos oferecendo todo apoio e queremos que a comunidade participe mais das atividades da escola. É um dia triste para a educação o que aconteceu”, contou.

A diretora da Escola Antônio Welerson, Rosani de Carvalho Figueiredo, concedeu entrevista sobre o episódio. “Foi um fato no Facebook pessoal deles. Não houve briga, desentendimento ou confusão. Foi no momento em que a escola estava tranquila. Ninguém havia falado sobre essas provocações. Não sabíamos desse problema deles no Facebook. Não tínhamos como prever que um aluno estava levando uma faca na mochila”.

ESCOLA NÃO SABIA DAS PROVOCAÇÕES

Ela deixou claro que foi uma briga externa e que teve esse desfecho na sala no intervalo entre as aulas. “A sociedade sabe que a escola não pode abrir as mochilas dos alunos, a não ser que alguém denunciasse. Infelizmente, pelo que sabemos, ninguém tinha conhecimento dessas provocações ou da existência da faca”, ressaltou.

A diretora ainda explicou que a escola adota o procedimento de manter contato com os estudantes justamente para evitar quaisquer conflitos. “Somos amigas dos estudantes, mantemos contato para evitar esses problemas e saber o que anda acontecendo. Orientamos os pais, sugerimos que não venham com celular para escola. Todos sabem que o telefone pode ajudar, como pode atrapalhar na sala de aula”, resumiu.

Outro ponto que ela ressaltou foi que tão logo aconteceu o problema foram adotadas medidas para os outros alunos não vissem a cena. “Fizemos o possível também para não assustar as demais crianças”.

Nessa sexta-feira, mesmo acompanhando o velório do garoto, a direção e professores fizeram questão de conversar com os alunos e pais.

CONVOCAÇÃO AOS PAIS

O assessor de comunicação organizacional do 11º Batalhão de Polícia Militar, Capitão Jeferson Vitor, também lamentou o fato ressaltando que não há registro anterior de episódio semelhante em escola de Manhuaçu e região. “Esse fato é um alerta para a sociedade como um todo, polícia, comunidade escolar, população em geral para a questão da violência. Não havia histórico desse tipo em nossas escolas. Somente nesse ano tivemos vinte homicídios na área do 11º BPM, sendo sete na cidade de Manhuaçu. Mortes com machadadas, facadas, em casas, na zona rural. Onde que iremos parar? As pessoas precisam acordar para essa questão. Agora temos duas famílias diretamente ligadas ao fato entristecidas, uma escola que precisa de apoio, os colegas de sala de aula que deverão ter uma atenção especial. Enfim, temos um grande problema que vai muito além de segurança”, pontuou.

Segundo ele, as pessoas devem compreender que a rede social não é o problema ou a causa da violência. “O pai dentro de casa limita a programação do filho na televisão e até as músicas que o filho ouve. Na verdade, muitos pais não acompanham o que acontece na internet. Os pais devem acompanhar. Os pais podem e devem ter contas na rede social, bem como professores, policiais, imprensa, em geral, o Facebook é uma área aberta. É importante saber com quem os filhos estão conversando, os conteúdos que estão publicando, postando e lendo na internet. É interessante acompanhar para saber o que fazem”.

O oficial contou que já estava programado o lançamento da Patrulha Escolar para dar atenção às escolas e que há outras com problemas também. “Já houve apreensão e armas e de drogas em escolas. Isso não é caso específico dos pais apenas ou dos professores, é da polícia, da justiça, do ministério público. Infelizmente, quando professores tomam providências e chamam a atenção do aluno, há pais que vão ate a escola tirar satisfação do educador. Vamos lançar a patrulha e queremos que a sociedade também participe”, ressaltou o Capitão Vitor.

Ele citou, por exemplo, os registros de problemas frequentes próximo a Escola Estadual de Manhuaçu (antigo Polivalente). “Pessoas que ficam próximas à escola com arma - que já apreendemos, outros provocando, roubando e arrumando confusão”.

RECLAMAR MENOS E AGIR MAIS

A Promotora de Justiça, Dra. Geaninni Miranda, também repercutiu a história ao comentar o problema que envolve adolescentes e crianças em Manhuaçu e no país. “Não tive acesso formal aos documentos do que aconteceu, mas em geral os casos envolvendo adolescentes são gerados num contexto social. Esse é o primeiro homicídio, mas tentativa já teve em escolas. Sempre foi uma grande preocupação nossa fortalecer a política pública social. (…) Nesse caso, sei que o jovem vai ser punido, mas a vida do outro não será trazida de volta”.

Segundo a promotora, são vários os relatos de alunos violentos: “O que temos que fazer, ao invés de ficar paralisado reclamando e falando: ‘Meu Deus, não posso andar nas ruas de Manhuaçu mais que vou levar uma facada’. Sinceramente, isso já está acontecendo nas escolas há muito tempo. Conheço vários professores que estão com medo de ir a determinadas escolas porque há alunos que xingam, batem e ameaçam. Isso é um problema social, de falta de moral, de falta de apoio para dar dignidade a esses jovens. Muitos deles crescem em lares destruídos pela droga e outros problemas. Não adianta agora falar que Manhuaçu está violento. Isso já aconteceu há muito tempo e é um problema social, muito mais do que de segurança”.

Dra. Geaninni Miranda argumentou que é preciso cortar o ciclo vicioso do mal: “Sairmos da nossa condição egoísta, parar de criticar e apontar culpa. Está na hora de parar de brigar por coisas inúteis, deixar a vontade de aparecer e fazer mais pelo outro, todos participando e colaborando. Temos que convocar as escolas, os pais, o Executivo e o Legislativo para pensar em políticas públicas de verdade para crianças e adolescentes. A Polícia Militar faz um trabalho ótimo de prevenção nas escolas. Temos que eleger prioridades que vão ajudar mais as pessoas. Criança e adolescente são prioridade absoluta. A sociedade de forma geral tem que cobrar isso com veemência”.

Carlos Henrique Cruz - portalcaparao@gmail.com

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