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São Francisco do Glória: Morte do prefeito teve motivações políticas

14/01/2008 - Atualizado em 16/01/2008 22h29

"A vertente da política é mais forte justamente por ele ser um político, estava no poder na cidade e, segundo relatos, ele queria a reeleição e estava com grandes chances de continuar na prefeitura, mas tudo será investigado", afirmou o delegado Milton Sabino, de Piúma.

O vice-prefeito da cidade, Luciano Dias Paes Neto, também não descarta essa hipótese. "Ainda está muito recente. Estamos todos chocados. O Gilberto era querido em toda a cidade e nosso mandato vinha muito bem. Ainda é cedo para levantarmos suspeitas, mas não descarto completamente a hipótese de motivação política", disse. Foi decretado luto oficial de três dias. As principais divergências políticas da cidade acontecem entre os partidos PSDB e DEM. Não foram citados nomes de adversários ou de suspeitos.

Ontem, funcionários da Prefeitura de São Francisco do Glória disseram, pedindo sigilo na identidade, que o administrador municipal havia reclamado de ameaças feitas através de ligações para sua casa. O teor das ameaças não foi revelado.

Gilberto Souza e Silva não foi o primeiro prefeito da cidade a morrer misteriosamente. Em 2001, o então ex-prefeito conhecido como Fabinho, na época filiado ao PFL (atual Democratas) e que cumpriu mandato entre 1993 e 1996, foi morto dentro de casa após um homem encapuzado entrar e disparar vários tiros contra ele. O inquérito foi arquivado por falta de provas, mas a polícia investigou duas hipóteses: briga por posses da família e rixa política. Três pessoas chegaram a ser presas, mas foram soltas em seguida por falta de provas.

O CRIME

O sargento Carlos Magno, da Polícia Militar de Piúma, contou que Silva chegou no sábado ao litoral com a família - mulher e dois filhos de 1 e 4 anos. Eles encontrariam com uma turma de amigos para passar férias. O prefeito e a família ficaram hospedados em um prédio na avenida principal, que corta toda a orla. O crime ocorreu por volta de 20h30 do domingo, quando ele estava na companhia de um amigo sentado em uma mesa do bar Bela Barrock, de acordo com o sargento. A mulher e os dois filhos já tinham ido embora quando um homem chegou em uma moto, com capacete, e disparou quatro tiros no prefeito. Ele foi socorrido, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no próprio local.

De acordo com o sargento, várias pessoas presenciaram o crime e estão sendo ouvidas pela Polícia Civil de Piúma, que será a responsável pelo inquérito. "O lugar estava cheio, porque é alta temporada. Ainda não prendemos nenhum suspeito. O índice de homicídios aqui é baixo e o fato não tem nada a ver com a época, foi algo que começou em Minas e terminou aqui", afirmou.

Outros parentes de Gilberto Silva estavam de férias na cidade e devem prestar depoimento ainda esta semana. O delegado Sabino disse que, na hora do crime, o prefeito estava sentado na mesa com um amigo e compadre de nome Marcelo. Em depoimento, Marcelo relatou que não conseguiu ver direito o ocorrido. "Não sei se por medo, mas ele não acrescentou muita coisa. Ele disse que só viu quando o homem caiu morto no colo dele", afirmou o delegado.

INVEJA

Ainda nesta semana, os parentes de Gilberto devem ser ouvidos. Os amigos da família disseram aos policiais que o prefeito tinha grandes possibilidades de reeleição e isso estaria levando inveja aos adversários. Uma equipe de investigadores de Piúma deve chegar hoje até a cidade e devem ter o apoio da Polícia Civil de Carangola para desvendar a morte. O delegado Milton Sabino acompanha a equipe.

Formado em engenharia civil, Gilberto Souza e Silva era empresário, dono de uma construtora em Belo Horizonte e também fazendeiro. De acordo com dados da prefeitura, o político nasceu na cidade e estudou na capital. O corpo de Silva foi enterrado na manhã de hoje no cemitério municipal. O vice-prefeito Luciano Dias Pais Neto (DEM) tomou posse ontem como prefeito da cidade.

CLIMA TENSO NA CIDADE

A política no pequeno município de São Francisco do Glória é considerada agitada com divergências peculiares de cidades do interior do Estado. Na cidade, o partido do prefeito assassinado Gilberto Souza e Silva, o DEM, por exemplo, tem como principal opositor o PSDB, contrariando a aliança entre tucanos e democratas em nível nacional.

O presidente da Câmara dos Vereadores de São Francisco do Glória, Geraldo Laviola (DEM), confirma o clima às vezes tenso na política local, mas disse não ver nenhuma relação da execução do prefeito, em Piúma, no Espírito Santo, com as rivalidades na cidade. “Não havia uma rixa política para uma associação com esse crime. A política aqui é movimentada, mas o prefeito era uma pessoa querida”, disse.

Ontem, os vereadores, como parte dos cerca de 5.000 habitantes do município, se mobilizaram em torno do assassinato do prefeito. “Todos tiveram uma reação muito ruim com essa notícia e ficaram muito surpresos. Ainda não sabemos nada para poder explicar esse crime”, acrescentou o vereador. A Câmara de Vereadores de São Francisco do Glória é composta por nove parlamentares – quatro do DEM, dois do PSDB (considerado oposição), dois do PMDB e um do PT.

Um policial de Carangola, que pediu para não ser identificado, contou ontem que São Francisco do Glória tem mais ocorrências violentas do que Carangola, que tem cerca de 30 mil moradores. Ele acredita que a morte do prefeito tenha sido por disputa política e lembrou que em 2001 outro político do município também foi assassinado.

Murilo Rocha com Patricia Giudice

COMÉRCIO FECHOU E CIDADE ESTÁ PARADA

 

O assassinato do prefeito Gilberto Souza e Silva (DEM) mudou completamente a rotina da pequena cidade de São Francisco do Glória, na Zona da Mata, que possui pouco mais de 5.000 habitantes. Todo o comércio do município fechou as portas. A cidade está parada. Muitas pessoas de outros locais viajaram à cidade para acompanhar o velório e o sepultamento do político. O corpo de Gilberto Souza e Silva chegou a São Francisco do Glória no fim da tarde de ontem e foi sepultado na manhã de hoje.

A dona de casa Ana Zilda Fernandes, 53, moradora do município, afirma que toda a cidade levou um susto com a notícia da morte do prefeito. “Ninguém esperava por isso. Todo mundo gostava dele e a cidade inteira está muito triste”, disse.

A também dona de casa Maria do Carmo Rodrigues Pedrosa, considera a morte do prefeito horrível. “Ele era uma pessoa que atendia a todos muito bem, então ganhou a simpatia da população. Tanto que a casa da família dele está cheia. Não param de chegar pessoas”, afirmou.

Segundo o vice-prefeito da cidade, Luciano Dias Paes Neto, Gilberto Souza e Silva pertencia a uma tradicional família da cidade e era muito conhecido. Parentes estão transtornados. Em entrevista a um jornal do Espírito Santo, a cunhada de Gilberto Souza, a funcionária pública Ângela Cristina da Silva, 27, disse que o prefeito aguardava ela e a esposa voltarem ao bar momentos antes do crime. “Ele estava em um bar junto com um amigo tomando cerveja aguardando a gente chegar”, disse.

Eugênio Martins - Jornal O Tempo 

  14/01/08 - 18:52 - Atualizada 15/01/08 - 14:01 - portalcaparao@gmail.com 

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