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Segurança

Estudantes de medicina também usavam esquema para passar de ano

09/12/2013

CARATINGA (MG) -  Escutas telefônicas feitas pela polícia com autorização da Justiça revelam como funcionava o esquema criminoso que fraudava vestibulares em 11 instituições de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Na terça-feira (3), estudantes, médicos e empresários foram presos na operação "Hemóstase".

De acordo com a investigação, depois de entrar na universidade, os estudantes também usavam os serviços da mesma quadrilha para conseguir passar de ano.

As prisões ocorreram em Caratinga, Governador Valadares e Ipatinga, no Leste de Minas Gerais, e no interior do Rio de Janeiro.

“A gente percebeu que essa pessoa ingressava por fraude, permanecia na fraude durante seis anos e posteriormente está apto a obter o CRM e a realizar os procedimentos médicos, pondo em risco a saúde pública”, afirma o delegado Fernando Lima.

A tecnologia era um dos atrativos durante a negociação com os candidatos, e os equipamentos usados pela quadrilha surpreenderam os investigadores. Segundo a polícia, os celulares eram de plástico, não tinham partes metálicas. Os fraudadores também ofereciam aos candidatos pontos eletrônicos. O receptor ficava escondido em uma carteira.

“Eles arrumaram um celular agora que não tem alto-falante não, viu? Só aparece a mensagem. Então detector de metal não pega ele”, afirma o criminoso em um das gravações.

O valor cobrado por uma vaga no curso de medicina chegava a R$ 130 mil. Quem pagava recebia treinamento antes de fazer a prova. Imagens mostram candidatos e integrantes da quadrilha se reunindo dentro de carros, onde, segundo a polícia, os candidatos recebiam as instruções da fraude. As respostas eram enviadas por telefone.

Golpista: Você vai pegar o celular, vai colocar ele no silencioso e na calcinha, no zíper. Porque se geralmente eles passam com detector, mas eles só passam detector na hora que entram.

Estudante: Como que eu vou fazer para tirar da calcinha e colocar debaixo da perna?
Golpista: Vai ter duas horas para você levantar devagar. Não vai precisar fazer correndo não. Vai levantando devagar no meio da cadeira, joga o corpo para lá, para cá e vai tirando.

De acordo com o delegado Luiz Eduardo Gomes, a quadrilha ainda enganava alguns estudantes que acreditavam ter passado no vestibular. Hackers eram contratados para incluir o nome dos candidatos que pagaram na lista de aprovados.

“Só se alterou o site que foi publicado o resultado, o site da empresa que publicou o resultado. Então essas pessoas tão logo chegaram na universidade descobriram que não foram aprovadas e isso gerou uma grande frustração”, afirma o delegado.

Um das gravações mostra a reação de uma estudante enganada, que já tinha até comemorado aprovação: “Você me falou que o negócio era garantido e isso é uma furada das grandes. Era óbvio que se o sistema fosse hackeado eles iam descobrir e arrumar de novo. A gente fez festa, um monte de coisa. Pois é. O que eu falo agora?”, questiona.

Os que conseguiam entrar na faculdade continuavam usando os serviços da quadrilha para passar nas matérias do curso de medicina.

Golpista: Está me ouvindo?

Estudante: Estou

Golpista: Vou falar a número 3: Aberta. Vou começar a ditar agora. Olha, devagarzinho. Por ser um medicamento ácido... Pegou? Tosse. A número 1: Fechada. É letra A. A número 2: fechada. É letra E, de elefante.


O esquema descoberto prendeu 21 pessoas em 17 cidades de Minas Geraise do Rio de Janeiro. Com a quadrilha foram encontrados R$ 300 mil em dinheiro e US$ 25 mil. De acordo com a polícia, o dinheiro seria do pagamento pelas fraudes.
 

Ao todo, 11 instituições de ensino foram investigadas durante nove meses. A polícia agora quer saber se funcionários das faculdades estão envolvidos no esquema. Além de estudantes, estão presos médicos e empresários que, de acordo com as investigações, também participaram das fraudes.

“São pessoas que têm um grande poder econômico, que gastavam muito para entrar na universidade e para se manter na universidade. São pessoas despreparadas para exercer a medicina”, afirma o delegado Luiz Eduardo Gomes.

O Conselho Federal de Medicina disse que espera que o caso seja apurado e que os responsáveis sejam punidos.

Presas ganham liberdade

Três mulheres que foram presas durante a operação "Hemóstase" foram liberados pela Justiça nesse sábado (7), para responder o processo em liberdade. Elas são suspeitas de participar do esquema que fraudava vestibulares em faculdades de medicina do Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Elas foram presas temporariamente e tiveram liberdade concedida por colaborarem com as investigações em depoimento e também porque foi comprovada menor participação delas no caso.

As informações são do G1 Minas Gerais / Bom Dia Brasil

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