Portal Caparaó - Saúde: Água e agrotóxicos no café são causadores de câncer em Manhuaçu?
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Saúde: Água e agrotóxicos no café são causadores de câncer em Manhuaçu?

22/02/2008 - Atualizado em 27/02/2008 07h53
O assunto é polêmico e muitas pessoas parecem ter interesse em não falar sobre ele: o uso descontrolado de agrotóxicos, a contaminação das águas e de alimentos e a relação disso com casos de câncer na região de Manhuaçu. Apesar do assunto ser constante, o Portal Caparaó não encontrou pesquisas científicas que apóiam uma ligação entre as três questões. Em Manhuaçuzinho, há sinais de que algo realmente procede nessa história toda e isso merece maior atenção das autoridades e melhor esclarecimento à população. Em entrevista ao programa Show da Manhã, na Rádio Manhuaçu, a presidente do Núcleo do Câncer, Niogercina Sette Aguiar, confirmou que o comentário sobre os casos registrados na cidade é comum, mas ainda não pode afirmar com certeza se a causa são os agrotóxicos. “Nós precisamos de uma pesquisa desenvolvida por uma equipe com base científica para levantar isso. Não existe uma estatística que comprove ou que elimine essa dúvida de que os agrotóxicos jogados nas lavouras são os causadores dessas doenças”.

O vereador Nilson Dangelo Labanca também confirmou que chegou a ouvir o questionamento de um deputado em Muriaé. O hospital do câncer na cidade atende a demanda da região. “O Lael Varela me questionou, como vereador, sobre o que a cidade tem feito. Ele virou para mim e afirmou que a maior parte dos casos atendidos em Muriaé tem origem na região de Manhuaçu”, afirmou.

O vereador não apontou causas diretamente, mas chamou a atenção das autoridades de saúde e do Ministério Público. “Eu já ouvi comentários que a causa poderia ser relacionada a torres de celular e ninguém tirou as torres de perto das casas populares no campo de aviação. Também já teve pessoas reclamando das tubulações antigas que levam água para as casas, ou seja, a água seria contaminada pelo tipo de material. Por outro lado, o que mais falam é que estão usando agrotóxicos de forma descontrolada e isso vem contaminando as águas e os alimentos. Eu não sei se tem fundamento, mas é preciso responder a população”, afirmou.

LAVOURAS DE CAFÉ

A Zona da Mata Mineira é responsável por 27,6% de toda produção do café de Minas Gerais, que por sua vez contribui com aproximadamente 40% de todo o café produzido no país.

Nos últimos dias, a preocupação manifestada por internautas mostrou um pouco de sentido em relação ao uso de agrotóxicos. Em 1997, houve uma grande polêmica em Manhuaçu pela aplicação indiscriminada de Baysiston. Na época, o pesticida foi citado como causador de intoxicação em agricultores. Como resultado, a empresa teve que adotar políticas de segurança e surgiram vários investimentos em orientação, a exigência do receituário agronômico e o surgimento do recolhimento das embalagens vazias.

O que o vereador questionou e também é resultado das mensagens no Portal Caparaó, apresentadas como argumento por Dângelo Labanca, é que as pessoas questionam se os produtores estão aplicando corretamente os agrotóxicos e se isso não vem poluindo as águas.

85% DAS LAVOURAS

Cerca de 85% da produção total de café produzido na Zona da Mata Mineira é oriundo de cultivares de Coffea arábica, espécie suscetível ao bicho mineiro (Perileucoptera Coffeella) e à ferrugem (Hemileia vastatrix), que são as principais pragas da lavoura cafeeira. No controle das pragas do cafeeiro uma formulação granulada muito utilizada é uma mistura de dissulfoton e triadimenol (75 + 15). O dissulfoton é um inseticida organofosforado usado com a finalidade de controlar o bicho mineiro e o triadimenol é um fungicida do grupo dos triazóis usado no controle da ferrugem.

O Baysiston é empregado contra fungos e insetos, durante a entressafra, para preparar a terra. O produto contém triadimenol e uma substância venenosa chamada disulfoton, uma mistura que há 25 anos é proibida na Alemanha. No Brasil, o pesticida tem registro há quinze anos e é líder no mercado.

Segundo o relatório da qualidade das águas superficiais de Minas Gerais, o Rio Manhuaçu apresenta um índice de baixa poluição, de acordo com o Mapa Águas de Minas 2006. Ao mesmo tempo, o instituto evidencia que a contaminação por agrotóxicos depende da consciência dos produtores. “Seus efeitos dependem muito das práticas utilizadas em cada região e da época do ano em que se realizam as preparações do terreno para o plantio, assim como, do uso intensivo dos defensivos agrícolas. Os agrotóxicos com alta solubilidade em água podem contaminar águas subterrâneas e superficiais através do seu transporte com o fluxo de água” – alerta o relatório.

Para o Saae, as medições de qualidade e contaminação são feitas com freqüência na região de Manhuaçuzinho, onde é captada a água fornecida aos moradores de Manhuaçu. Além disso, o tratamento é feito antes de chegarem às casas. Como houve as novas indagações, o Diretor do Saae Gentil Pazeli informou que solicitou uma análise detalhada para eliminar todas as dúvidas.

Ele garantiu que tão logo o processo seja concluído poderá se manifestar quanto a isso, mas adiantou que não vê motivo de alarme, já que o Saae monitora a água constantemente.   Na área da Saúde, o Conselho Municipal chegou a abrir discussão sobre o tema. O Presidente Júlio Caetano informou que quer ouvir os moradores que representam as regiões de Manhuaçuzinho, Palmeiras e Realeza e solicitou contatos com setores da Saúde no Estado para ampliar o debate sobre o tema.   Carlos Henrique Cruz - 22/02/08 - 17:45 - portalcaparao@gmail.com Reportagem sugerida pelos internautas 

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