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Pastora perdoa o assassino da família para conseguir viver novamente

27/03/2015 - Atualizado em 27/03/2015 08h02

VILA VELHA (ES) - Hoje, Luciana Breder, 40 anos, é feliz na companhia do marido, o pastor Rogério, 44 anos, e das filhas Luana, 18, e Camila, 16. No entanto, durante onze anos foi uma mulher amarga e infeliz, depois de perder os pais, um sobrinho e uma irmã, assassinados pelo ex-cunhado. Ela é filha do ex-prefeito de Manhuaçu, Fernando Lopes, morto numa chacina em 1993. Um dia, porém, Luciana diz ter vivido uma experiência de fé e, após conseguir perdoar o assassino, conseguiu viver novamente.

Ela relembra como foram os fatos naquela época:  “Quando tudo aconteceu morávamos em nossa fazenda no interior de Minas Gerais, em uma cidade chamada Reduto. Justamente ali, onde cresci brincando com primos, irmãos, amigos queridos e vivi ricas experiências em família. Depois que uma das minhas irmãs colocou um ponto final em um casamento conturbado, meu ex-cunhado não se conformou e isso foi o estopim de tudo.

Jamais vou esquecer daquele dia. Era madrugada do dia 19 de julho de 1993. Eu tinha 18 anos de idade. Fazia frio e estávamos dormindo. Meu ex-cunhado conseguiu invadir a casa, entrou no quarto onde minha irmã dormia com meu sobrinho e atirou contra ela. Muito assustada com os gritos, os tiros e o som das cápsulas caindo no chão, me tranquei no banheiro do meu quarto.

Em seguida, ele foi ao quarto dos meus pais e também atirou contra eles, que tentaram intervir em favor da minha irmã. Um dos tiros atingiu também outro sobrinho, de 3 anos que dormia serenamente em um colchão no chão”.

Nenhum dos quatro resistiu. O assassino pegou uma pena de 48 anos, dos quais cumpriu apenas nove e ganhou liberdade.

Trauma

"Eu é que fiquei presa ao passado durante mais de 11 anos. Passei a viver uma vida traumática, a sentir medo de tudo. Qualquer barulho que eu ouvisse à noite, era como se eu estivesse revivendo o passado. Eu achava que ia perder tudo que eu amava. Mesmo as minhas filhas Luana, hoje com 18 anos, e Camila, com 16, eu tinha medo de perder", detalhou.

"Minha avó paterna, Aldair, um exemplo de fé e força, tal qual minha mãe Nilda e minha avó materna Nair, sempre me falava que eu tinha que perdoar o assassino. O segredo para continuar a viver depois de tudo que aconteceu era o perdão. Mas isso era impossível para mim.

Certa vez uma tia, que é cadeirante, me convidou a voltar na fazenda (já vendida) para minhas filhas conhecerem. Então a mais velha (ainda criança) disse: ‘Mãe, toca a companhia, quero tanto conhecer a sua mãe (achando que ainda estava viva)’. Naquele momento e na volta retruquei a minha vó: ‘Como posso perdoar o homem que tirou o direito das minha filhas de conhecerem a avó?’".

O perdão

Em outro trecho da reportagem ela conta como foi o perdão: "Um dia, porém, em um encontro na Igreja Missão Praia da Costa, em Vila Velha, Deus me disse literalmente que eu não havia morrido junto com meus pais e que me guardou dentro do quarto porque tinha sonhos para mim.

E para que esses sonhos se realizassem, eu precisaria deixá-lo trabalhar em minha vida. Naquele momento, abri meu coração e pedi para que me ensinasse a perdoar e, imediatamente, liberei o perdão ao assassino da minha família. Foi como se 11 anos de dor e morte saíssem das minhas costas.

Claro que sua história sempre fará parte de você, mas o perdão para mim é saber que tudo isso aconteceu e conseguir não culpar mais a pessoa. Depois que Deus me libertou desse peso, entendi que as pessoas precisavam ouvir essa história. Precisavam entender que, para Deus, nada é impossível.

Então, com a ajuda de queridos irmãos em Cristo, escrevi o livro ‘SobreViver, Quando uma tragédia se transforma em vida’. Sem editora e com apenas mil exemplares, é impressionante como esse livro tem ajudado vidas.

Não existe dor maior que Deus não possa nos ajudar a suportar. O ódio machuca, faz não ter vida. Você vive olhando para trás como eu vivi. Sempre triste, sempre deprimida, doente. O perdão traz vida e muito mais para a gente que perdoa do que para quem recebe o perdão".

Luciana hoje, vive em Vila Velha com duas filhas e com oesposo, o também pastor Rogério Breder, que sempre esteve ao seu lado. Em meu ministério na Missão, trabalha com as crianças, e seu sonho é continuar vendo seu testemunho levando mais e mais pessoas aos pés de Cristo.

Wesley Ribeiro / A Gazeta

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