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Centenário do nascimento de José Almeida e fatos da história de Manhuaçu

20/09/2020

MANHUAÇU (MG) - Neste final de semana, comemorou-se o centenário de nascimento do ex-combatente da 2ª Guerra Mundial, José Almeida Silva. A trajetória do patriarca da família Almeida Silva se mistura com importantes fatos do desenvolvimento de Manhuaçu.

Em uma publicação, familiares prestaram uma homenagem de gratidão pela existência de José Almeida Silva e pelo o que ele representou para sua família, para a cidade e por seu país .

CRONOLOGIA E FATOS

Conta o professor Flávio Almeida que seu pai, José Almeida Silva, nasceu no dia 19 de setembro de 1920:

“No final do de 1919 ,Vitalina Baptista de Almeida fica grávida , dando a luz no dia 19 de setembro de 1920 a uma criança do sexo masculino, registrado com o nome de José Almeida Silva, por seu pai, Antônio da Silva Pereira, em Carangola/MG”.

A criança pode conviver muito pouco com a mãe. Menos de dois anos depois, ela perderia a vida, vítima de infecção puerperal, no parto de uma irmã pré-morta. Entrevistado por Cibele S. Pizzeli , transcrita para o livro de Ivonne Ribeiro de Almeida “Fragmentos da Historia de Manhuaçu”, trouxe o relato do próprio personagem.

“Nasci em Carangola, morei lá, pouco tempo. Meu pai ficou viúvo, e teve que se mudar para o Espírito Santo. Com isto eu fiquei ao léu: uma hora com ele e outra hora com minha avó. Algumas vezes meu pai não tinha onde me deixar. Dependia muito de favores de pessoas amigas. Tive uma infância muito difícil, porque minha avó também era viúva e lutava com grandes dificuldades. Era serviçal em um hospital de Carangola, ganhava muito pouco, mal dava para ela. E meu pai, depois de algum tempo, mudava de cidade: Patrocínio do Muriaé, Recreio, Guaçuí, Santana de Manhuaçu. Era uma vida errante”, detalhou na época.

A MUDANÇA PARA MANHUAÇU

Em 1932, jogando bola em Santana do Manhuaçu, o menino José Almeida sofreu um acidente, fraturando o antebraço e a rótula do cotovelo. Um novo problema que forçou pai e filho a virem a Manhuaçu, consultar com o Dr. Cordovil Pinto Coelho, médico oriundo de Viçosa-MG. Seu braço, que ficara estendido na tipóia caseira, calcificou de uma forma que impedia que ele flexionasse o braço. A solução do médico foi quebrar de novo, colocando o antebraço em posição que permitia escrever. Este procedimento ortopédico quebrou um pedaço da articulação, mas permitiu a movimentação normal do antebraço.

O inusitado, que trouxe os dois a Manhuaçu, apontou para um fato notável: a cidade tinha uma escola, o Ginásio do Professor Juventino Nunes. E era uma cidade de produção de café. Então mudaram de novo e passaram a residir em Manhuaçu . A seguir , criaram coragem e foram conversar com o prof. Juventino sobre a possibilidade de matricular na escola. Antes de iniciarem a negociação , o professor externou sua preocupação em adquirir máquinas de escrever. O Ministério da Educação havia publicado uma Portaria exigindo que as escolas possuÍssem máquinas de escrever. Todos tinham que cumprir esta exigência .

O pai informou que consertara duas máquinas de escrever de um grande comerciante de café da cidade , que queria comprar máquinas novas para substituí-las. Autorizado pelo diretor , ele intermediou a aquisição das mesmas. Com isto , o diretor ficou tão grato que concedeu dois anos de estudo com isenção total. José Almeida ganhava uma escola e a escola recebia um aluno muito inteligente que logo se destacaria. Desta forma, conseguiu formar na profissão de guarda-livros (contador) e logo em seguida foi trabalhar no comércio.

GUERRA MUNDIAL

Em 1942, ao voltar para casa do trabalho, foi informado que recebera uma correspondência do Ministério da Guerra. Era uma convocação do Exército alistando-o para a formação da Força Expedicionária Brasileira, que se integraria ao 5º Exército Americano. A missão era combater o Exército Nazista muito bem posicionado no alto dos Apeninos. Desembarcaram em Napoli e seguiram até os Apeninos onde situava o Monte Castelo, Castelnuovo, Montese e outros, na operação Encore. Além de um exército alemão bem treinado e bem armado havia mais dois fatores a dificultar a FEB: o relevo acidentado da região italiana e o clima de um inverno rigoroso, que ocasionava baixas entre os Pracinhas.

Com o apoio da FAB e da artilharia americana, numa estratégia conjunta muito bem planejada, a FEB recebeu a rendição incondicional da 148º Divisão Alemã. O Brasil cumpriu sua missão . José Almeida recebeu a medalha do Exército e de Campanha e elogio nominal no boletim do Comandante da Companhia de transmissões da FEB, o Tenente-Coronel , Oswaldo Aranha Filho, cujo pai ilustre, Ministro de Getúlio Vargas, se esforçou para que o Brasil não se posicionasse a favor do eixo.

CASAMENTO

Já de volta ao Brasil, em 1945, casou-se no Rio de Janeiro com Ivonne Ribeiro de Almeida, filha do comerciante Português José Ribeiro. Logo em seguida mudou-se para Manhuaçu , fixando sua residência na Rua Monsenhor Gonzalez, 481 .

Em 1948 - Foi nomeado Inspetor Federal de Ensino do curso Comercial, ingressando no quadro de técnicos educacionais do MEC. Com o tempo , o cargo Público aumentou muito as exigências , tendo que atender a várias cidades da região . Com isso teve que deixar a profissão de guarda-livros. Como Inspetor Federal deu parecer favorável à abertura de muitas escolas da região. Mesmo que as instalações fossem um pouco precárias, dava parecer favorável. Talvez, lembrando de sua infância, comungava um princípio: “é preferível uma escola funcionar com instalações mais simples do que uma criança fora da escola”.

No ano de 1951, iniciou investimento em empreendimento imobiliário implantando um loteamento na antiga chácara do Cedro, que denominou Bairro São Vicente, indo da Rua Frederico Dolabela até os limites da FUMAPH, reservando uma área para a possível passagem da projetada rodovia BR-262 .

A PASSAGEM DA BR-262

Em 1952, com Altamir Garcia, Jorge Espechit, Mário Pacini, Deputado Federal Camilo Nogueira da Gama, Ubiraci Martins e outros, formaram um núcleo duro para conseguir que o trajeto da BR-262 (antiga BR-31) passasse por Manhuaçu. Havia um obstáculo: o protocolo sobre normas reguladoras das rodovias federais exigia que a faixa de domínio da estrada tivesse 40 metros para cada lado, a partir do eixo. O Cemitério Público Municipal impedia o cumprimento desta exigência. Estava no poder o PTB do Presidente da República Getúlio Dorneles Vargas, o partido político preponderante deste grupo.

José Almeida recorreu até ao seu ex-comandante, filho do Ministro mais prestigiado do governo Vargas. Levou algum tempo, mais foi alterada a exigência, permitindo uma redução da faixa de domínio no perímetro urbano. Em 1968, a BR-262 foi concluída, beneficiando os Estados de Minas Gerais, do Espírito Santo e sobretudo , impulsionando o progresso de Manhuaçu.

ALMEIDA BOYS

A partir de 1966, incentivou e foi empresário do grupo musical formado pelos seus filhos e outros músicos, conhecido como “Almeida Boys” que fez muito sucesso e levou o nome de Manhuaçu a vários estados do País. O Almeida Boys existiu até 1976.

Flávio Almeida conta que seu pai se aposentou do Serviço Público Federal na década de 1980 e a partir daí curtiu sua família, seus filhos, sua esposa e em especial seu netos. Era feliz , abrigava a alegria em seu coração e gostava de reunir a família e amigos em momentos em que a música era presença cativa e obrigatória.

Propositalmente, o professor reforça que usou o roteiro do livro “Fragmentos da História de Manhuaçu” pois intencionou dar voz a Ivonne Ribeiro de Almeida, embora ausente, a eterna esposa apaixonada e entusiasmada por José Almeida .

No artigo sobre o centenário, o professor Flávio José Ribeiro de Almeida encerra lembrando o artigo escrito pelo filho Guilherme Ligieri de Almeida, em que fala da saudade do patriarca: “Meu avô José Almeida, ele mostrava: jovem é aquele que vive e não se ausenta do compromisso de viver. A mocidade de sua alma fora censurada pela sua doença sem cura. Lutou, porém, não se entregava . A doença não era mais forte do que a vontade de viver. José estava ali, forte pelo seu passado , orgulhoso de suas ações . A morte não o amedrontou. De dinâmico, não reclamava de sua situação, suas pernas estavam debilitadas, seu corpo consumido, mas sua forte alma não se dava por vencida. Lutou até o último momento. Hoje José Almeida descansa, e o que nos resta são lembranças guardadas no coração"

Por Flávio José Ribeiro de Almeida

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