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Segurança

Homem passa cinco dias de humilhação na cadeia

30/06/2010 - Atualizado em 30/06/2010 07h02
Dione ficou preso cinco dias no lugar do irmão Joni

Dione Jovita Alves ficou cinco dias preso, passou momentos difíceis atrás das grades, foi transferido para duas cadeias diferentes com pés e mãos algemados como se fosse um perigoso homicida. A história terminou na quarta-feira depois que os advogados conseguiram que a Justiça determinasse sua soltura. Ele estava preso no lugar do irmão, Joni Jovita Alves.

Fora da cadeia, o trauma continua. Dione contou essa semana que foram os cinco piores dias de sua vida. “Foi muito ruim ficar preso por algo que não fiz. Dormi embaixo de um vaso sanitário com os outros presos urinando em cima de mim. Uma torneira em cima da minha cabeça. Um monte de pessoas estranhas, alguns realmente perigosos, mas eu não tinha que estar ali. Eu sou do Rio de Janeiro e alguns policiais pensam que todos os cariocas são bandidos. Eu fiquei preso como se fosse um criminoso muito perigoso”.

Sem ver a família e sem alguém com quem contasse, Dione teve que esperar cinco dias preso. Ele mora em Palmeiras (distrito de Manhuaçu), viajou no sábado, 19, para o Espírito Santo. No posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em Ibatiba, foi parado numa fiscalização de rotina. A surpresa veio quando os policiais puxaram a ficha dele: havia um mandado de prisão desde 1999. Por causa da confusão de nomes, foi preso acusado de um homicídio em 1997, cometido por seu irmão, que não tem notícias há dez anos.

No domingo, familiares procuraram os advogados Geraldo Terra Filho e Iara Carvalho Terra, em Simonésia. Eles iniciaram os argumentos para tirar o homem da cadeia e conseguiram na tarde de quarta-feira, dia 23. O Juiz de Ipanema, Dr. Luiz Eduardo de Oliveira de Faria, diante das informações e percebendo o erro, decidiu colocar em liberdade Dione Jovita Alves.

“A PRF fez cumprir o que estava escrito: a determinação da Justiça. O que ocorre é que esse mandado era para o Joni, que é irmão do Dione. Estavam os dados, data de nascimento e tudo do Dione”, conta Geraldo Terra Filho.

TRANSFERÊNCIA HUMILHANTE

Além da cadeia, a transferência foi ainda mais humilhante. O advogado diz que o mais absurdo foi o tratamento dado a ele, mesmo quando tudo já estava esclarecido: “Ele foi primeiro para Venda Nova do Imigrante, depois para a cadeia de Iúna e por fim para Ipanema. Ele fez turismo nos carros da polícia. Tudo isso indevidamente. O que mais me surpreende é a forma como a polícia do Espírito Santo agiu, mesmo já sabendo que ele estava preso por causa de um erro. Agiram de forma inconseqüente e o trouxeram para Ipanema com escolta e tudo mais, parecendo um verdadeiro criminoso. Isso sim é bárbaro e inaceitável”.

O advogado conversou com pessoas que viram a chegada e acompanharam o tratamento que teve. Segundo ele, somente em Ipanema é que foi dada uma atenção ao caso: “O delegado e os policiais agiram dentro da lei em Ipanema e trataram o rapaz com dignidade. Desempenhamos um trabalho desde domingo em prol disso para poder colocar o Dione na rua. Ele não poderia ficar pagando por um crime que não cometeu. Na quarta-feira, ele foi para casa e reencontrou sua família”.

Dione diz que estava se sentindo como um lixo: “Nem um animal é tratado do jeito que fizeram comigo. Me humilharam muito na hora da prisão. Eu passei muita vergonha. Fui para Venda Nova e o delegado já chegou perguntando: ‘qual é a desse bandido aí?’. Eu não me senti bem com isso não. Na transferência, me trataram como um porco. Algemaram meus pés e mãos e me colocaram na traseira do carro. Na estrada, vinha batendo todo amarrado”.

Agora livre, Dione diz que está feliz em rever a família e que tinha medo do que poderia acontecer. “Estava longe da família e eles não tinham nem como saber o que estava acontecendo. Vou ingressar com uma ação na Justiça contra o Estado”, avisa.

O Delegado de Ipanema Nilson Belmiro admitiu que a situação do preso é constrangedora, mas não opinou sobre a responsabilidade do que houve. “A pessoa ser presa inocentemente, mesmo que seja por alguns minutos, é uma situação que não podemos tolerar. O erro é difícil de atribuir. Pode ter sido no cadastramento do mandado de prisão e isso pode ter acontecido há muito tempo, já que tem mais de dez anos desse mandado. Entretanto, é difícil falar o que houve”, afirmou.

Divino Augusto / Carlos Henrique Cruz - portalcaparao@gmail.com

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