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Segurança

Mineiro morto nos Estados Unidos pela Polícia

09/03/2007 - Atualizado em 15/03/2007 15h23

Familiares de Júnior Patrício de Sá, de 31 anos, assassinado nos Estados Unidos, aguardam ajuda do governo brasileiro para o traslado do corpo ao Brasil. Abalado com a morte do irmão, o agricultor Valtair Luís de Sá, de 43, disse que a família não tem condições de custear as despesas, orçadas em seis mil dólares. O rapaz foi morto pela polícia americana no domingo.

Segundo a sobrinha de Júnior, Valéria Andréa Lopes, houve uma briga generalizada, por volta das 22h30, por causa do pagamento de aluguel na república em que o tio morava, em Pompano Bech, na Flórida. “Uma vizinha ouviu a confusão e chamou a polícia”, contou.

A acusação é de que os envolvidos na briga colocaram as mãos para o alto, mas mesmo assim os policiais atiraram. Júnior foi atingido por um tiro na cabeça e morreu na hora. Um outro brasileiro também foi baleado.

Valtair discorda das informações de que o irmão brigava com um amigo. “O Júnior sempre foi uma pessoa tranqüila”. Antes de tentar uma vida melhor para os filhos Cleison, de 12, e Alexandre Patrício de Sá, de 8 anos, como pintor de casas nos Estados Unidos, ele morava com os pais em um sítio no distrito de Santa Luzia, em Caratinga.

O filho Cleison Patrício diz que o pai sempre falava que só deixou a família porque gostaria de dar uma vida melhor para eles. Na última conversa com o pai, no fim de semana, Patrício comentou com o filho que não iria demorar a voltar. "Ele falava sempre que ia voltar e que estava mandando nosso dinheiro. Agora aconteceu isso", contou o garoto.

O mineiro chegou nos EUA há três anos e meio, pela fronteira do México. Ilegal no país, já havia quitado a dívida com coiotes e juntava dinheiro para investir na cidade natal. Na conversa com o irmão, disse que estava feliz e pretendia voltar em outubro. "Ele queria criar os filhos, era o sonho dele. Quando fiquei sabendo do ocorrido, foi com se tivessem baleado o meu peito”, comentou Valtair. A irmã Neuza Rosa de Sá, que mora há 12 anos nos Estados Unidos, cuida da liberação do corpo. Ela chegou na quarta-feira à Flórida, onde se reuniu com advogados.

Valtair disse não acreditar na versão da polícia de que Patrício foi morto, depois de briga com o brasileiro Adonirio Silva, de 47 anos. O colega foi levado para o North Broward Medical Center em estado grave. "Infelizmente, não terei meu irmão de volta, nada do que for feito vai curar a nossa dor. Mas queremos que a justiça seja feita", comentou Patrício.

No distrito, o clima é de dor e revolta entre moradores. Pare eles, a ação dos policiais não respeitou a vida. "É mais um brasileiro que foi para os Estados Unidos em busca de trabalho e volta morto. Como sempre, nada vai acontecer, só a família vai chorar a perda", disse a dona-de-casa Maria Clara de Lourdes.

EXPLOSIVO

Eram quatro pessoas que moravam no condomínio Heritage Circle, em Deerfield Beach, na Flórida, e tiveram uma discussão no domingo à noite. Quando os policiais chegaram, deram voz de prisão a Júnior Patrício, que estava ameaçando o amigo com uma faca, mas ele não obedeceu, de acordo com as informações dadas pelo Broward Sheriff’s Office (BSO). Pelo menos três tiros atingiram os brasileiros e, até o fechamento desta edição, Adonirio estava internado no North Broward Medical Center em estado crítico, pois também tinha ferimentos de faca.

“Foi uma morte absurda. Ele não falava uma palavra de inglês, por isso não obedeceu aos policias”, disse a irmã de Júnior, Neusa Neves, que mora em Indianápolis e recebeu uma ligação dele minutos antes de morrer. Segundo ela, o irmão era pintor e, apesar do temperamento explosivo, tinha um bom coração.

“Nesta última vez que falei com que ele, eu ouvi gritos do outro lado da linha e tive o pressentimento de que alguma coisa ruim iria acontecer”, lamentou Neusa, pelo telefone.

BRIGAS CONSTANTES

Júnior tinha 31 anos de idade e estava nos Estados Unidos há pelo menos quatro. Ele saiu de Caratinga em 2003 e já havia morado em Pompano Beach, Indianápolis e Nova York. Há pouco mais de dois meses havia retornado à Flórida e foi morar no Heritage, onde pelo menos 70% dos residentes são brasileiros. Os ocupantes do apartamento 212 eram conhecidos na área pelas discussões e bebedeiras: “As brigas eram comuns entre eles. No domingo à noite todo mundo ouviu a gritaria”, contou Celso Santos, vizinho de porta. Segundo testemunhas, o desentendimento começou com a cobrança do dinheiro do aluguel.

Os dois policiais que participaram da ação foram suspensos pelo BSO: Vincent Campos e James Morrisroe serão submetidos a um processo administrativo para que sejam apuradas as circunstâncias da morte de Júnior Patrício. “Os brasileiros não podem ser assassinados pelos policiais a todo momento e ficarem impunes”, afirmou Neusa, lembrando o caso de Jean Charles, abatido no metrô de Londres, há pouco mais de um ano.   Carlos Henrique Cruz - 09/03/07 - 07:55  Com informações do Achei USA

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