VIÇOSA (MG) - Após ser vítima da meningococcemia, uma infecção bacteriana aguda, que pode causar infecção generalizada e levar à morte rapidamente, o estudante da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Felipe de Oliveira Lima da Silva, de 26 anos, amputou parte das duas pernas e as falanges dos dedos médio e anelar da mão esquerda. Mas a doença que deixou marcas no corpo do estudante de agronomia, não o paralisou. Agora o jovem sonha em ser atleta paraolímpico e conta com a ajuda de amigos, que vendem rifas, para implantar próteses fixas e voltar a andar. "Estou sem os membros, mas meu coração ainda é cheio de sonhos".
Felipe nasceu em São José dos Campos e se mudou para Viçosa, na Zona da Mata de Minas Gerais para cursar agronomia na UFV. Após voltar de um evento de música na cidade, no dia 30 de agosto, sentiu dores nos pés e mãos e foi internado no Hospital São João Batista em Viçosa com dores intensas, diarreia, vômitos e manchas roxas nos pés.
"Assim que cheguei ao hospital, a médica de plantão já imaginou que podia ser meningococcemia. Fiquei isolado na UTI e começaram a me tratar com altas doses de antibiótico. Minha vida mudou em 24horas. Um dia antes de sentir as dores eu estava bem, saindo com amigos, e agora não posso mais andar", lamentou.
O estudante tratou a doença em Viçosa por 20 dias e depois foi transferido para o Hospital das Clínicas em São Paulo. No dia 2 de outubro as pernas e dedos do jovem estavam necrosados e ele foi submetido a uma cirurgia de amputação.
"De agosto até outubro vivi os piores dias da minha vida. Além das dores por causa da necrose, havia o fantasma da infecção generalizada. Sentia tanta dor e medo de morrer que já queria ser amputado. Era a chance que eu tinha de continuar vivo. Não sei como contraí a doença, e agora tenho que conviver com ela e com as marcas que deixou em meu corpo", comentou.
Doença
O médico infectologista, Mário Lúcio de Oliveira Novaes, informou que existem dois tipos de meningite, a viral e a bacteriana. A meningite bacteriana, que foi a que Felipe contraiu, é mais grave e, dependendo dos casos, pode levar o paciente à morte em algumas horas após o aparecimento dos sintomas.
"Entre as meningites bacterianas, a meningocócica costuma ser a responsável pelos quadros mais graves e fatais da doença. De cada dez pacientes diagnosticados com a doença, sete morrem", afirmou Mário.
O infectologista esclareceu que a transmissão da doença ocorre através das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta. É necessário um contato próximo e prolongado para a transmissão da doença, como compartilhar ambientes fechados como elevadores, por várias horas seguidas.
Outra forma de transmissão é o compartilhamento de copos e talheres, assim como contatos interpessoais íntimos como beijo e relação sexual.
Sonhos
Órfão de pai e mãe, o jovem se recupera da cirurgia de amputação na casa de uma tia em São Paulo. Felipe vê a reviravolta na sua vida com bons olhos e se apoia no carinho de amigos e familiares para continuar estudando. O paulista pretende se recuperar logo e almeja um implante de próteses fixas para voltar a andar e um dia competir nas paraolimpíadas.
"Em Viçosa eu corria, fazia diversas atividades físicas e nunca me imaginei sem as pernas. Já fiquei muito triste por conta do que aconteceu comigo. Fico me perguntando - por que comigo? - mas me apoio na chance que tive de estar vivo. Meus amigos foram essenciais para isso. A única coisa que quero agora é voltar a andar. Quero me formar em agronomia e tentar ser um atleta paraolímpico".
Amigos do graduando conseguiram doações e estão rifando televisores, celular, entre outros prêmios na tentativa de conseguir arrecadar R$ 70 mil para custear as próteses que Felipe precisa.
"Estou sem as pernas, mas meu coração ainda carrega muitos sonhos. Com elas ou sem elas não vou deixar de ser feliz. Tenho amigos e familiares muito amados. Eles me dão força. Temos fé que vamos conseguir o valor para as próteses. Minha vida não vai parar", concluiu.
Bárbara Almeida - G1 Zona da Mata