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Advogado critica em artigo postura da OAB

17/08/2009 - Atualizado em 18/08/2009 14h30

IGUALDADE: UTOPIA OU REALIDADE?

Aos 20 anos de idade, devido a um acidente,  tive que aprender a lidar com a tetraplegia, a qual gera uma das limitações físicas mais severas, impossibilitando o movimento dos braços e pernas, em maior ou menor grau.

Claro que foi difícil, e ainda é, ter que depender de outras pessoas até mesmo para realizar coisas tão básicas do cotidiano.

No entanto, o que mais me choca nos últimos tempos é ter que lidar com o preconceito arraigado numa sociedade estereotipada, onde o que interessa não é quem você é, mas sim o que você tem, ou o que pode proporcionar,  num mundo cada vez mais capitalista e voltado para os interesses próprios.

Aceitei com naturalidade o fato de ficar preso a uma cadeira de rodas para o resto de minha vida, mas nunca fui de me acomodar, e fui à luta. Escolhi dentre as profissões a que mais se adequasse aos meus ideais e meus sonhos de justiça, e na qual minhas limitações não prejudicassem o desempenho das funções às que me predispunha com minha futura carreira e, assim, colei grau na Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas - FADILESTE como bacharel em Direito. Após a colação de grau fiz o exame da OAB  sendo aprovado e recebi a inscrição nº 109.311, portanto sou advogado e tenho o privilégio de exercer a profissão mais linda do mundo. 

Infelizmente, apesar de aceitar minha nova condição física, eu teria que aceitar outros aspectos que por ventura desta estão incluídos no “pacote” e, estes sim, são difíceis de aceitar e compreender. Creio que só quem já sofreu algum tipo de preconceito pode ter a verdadeira dimensão desta palavra e a angústia que causa ser excluído.

 Não estou falando de forma geral, pois lembro com muito carinho da minha época de acadêmico na Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas - FADILESTE, onde sempre fui recebido com muito respeito pela reitoria, professores e funcionários que nunca mediram esforços para facilitar meus acessos e dos demais portadores de limitações, demonstrando de forma virtuosa que todos têm direito a educação. Naquela época eu imaginava que não teria mais que enfrentar tanta discriminação, pois, lá encontrei pessoas que me ajudaram a crescer, me incentivaram e apoiaram em todos os momentos acadêmicos, só tendo que enaltecer e agradecer esta grande faculdade, por suas qualidades tanto técnicas, quanto humanas.

Além do preconceito, que ainda é a maior barreira para a inclusão dos que têm limitações físicas na sociedade, tendo sido largamente discutido em encontros internacionais de diversos setores, outro problema que nos atinge é a falta de estrutura para o acesso em locais públicos, e pasmem, o escritório da OAB no Fórum da Justiça Comum de nossa cidade não tem sequer acesso para os advogados portadores de limitações, ferindo  deste modo nossas legislações tão modernas e vigentes acerca da inclusão social.

Pois bem, decidi escrever este desabafo ao tomar conhecimento de que, no dia 12 de agosto, a OAB/MG Subseção Manhuaçu, estaria promovendo um evento comemorativo ao Dia do Advogado, para o qual vários colegas foram convidados, e do qual só tomei ciência através de telefonemas destes perguntando se eu iria a tal comemoração, pois estes haviam recebido convite formal e, para minha indignação, eu não recebi.

Não tenho noção de como são feitas as escolhas de quem será convidado para tais eventos, até gostaria de obter tal informação, a partir do momento em que diversos amigos de profissão receberam tal convite.

No meu entendimento, sendo advogado e estando com a anuidade da OAB em dia, acreditava estar no rol de membros desta renomada Ordem a ter o direito de participar de festividades tanto quanto os demais nobres colegas, mas, infelizmente, não foi o caso.

A cada dia que passa, esse tipo de situação lamentável, de ser excluído, só me faz crer que o preconceito arraigado no ser humano não se dissipa com o tempo, e torno a pensar que tudo sempre será mais difícil nesta profissão tão digna que escolhi, devido às minhas limitações físicas, por ser tetraplégico.

Nego-me a crer que não recebi tal convite por ventura das minhas dificuldades de locomoção, mas fica difícil acreditar, quando me deparo com este tipo de situação que me faz desacreditar na boa vontade do próximo, ainda mais partindo da Ordem que tanto respeito e da qual faço parte.

Houve quem dissesse  que tal atitude só poderia ser política, pois as eleições de diretoria estão próximas e o interessante nestas oportunidades é sempre convidar aqueles que possam se fazer aliados durante o ano eleitoral da entidade. Revolto-me com tal comentário, partindo do princípio que já passamos por politicagem e conchavos em épocas de eleições governamentais, o que já é insuportável, quem dirá dentro de uma Ordem em que seus componentes devem sim se unir e não dividir.

Caros Colegas, não julgo ninguém, nem o poderia; estou sim, fazendo um desabafo por não ter tido a prerrogativa de poder celebrar junto aos demais que, de forma privilegiada, foram convidados e  puderam assim brindar o nosso tão merecido Dia.

Muitos podem pensar que o que vale é a boa comida, boa bebida, um som legal, ainda mais quando estamos diretamente pagando por isso com nossa anuidade. Mas, para mim, o que interessava era estar junto dos colegas, trocando idéias, confraternizando. Melhor ainda quando isso se faz em um momento de festa, fora do estresse de nossas batalhas cotidianas.  

No entanto, não estou aqui lamentando não ter sido convidado para tal acontecimento, estou sim, clamando por direitos iguais assegurados em nossa Carta Magna, não só a mim, mas a todos que por vezes se sentem injustiçados, excluídos e suprimidos de tantos momentos aos quais não só teriam direito de compartilhar, como vontade de tomar parte mais efetivamente, sejam eles festivos ou não, até porque fora de momento festivo estive presente em outras oportunidades, inclusive trabalhando como fiscal nas provas da OAB deste ano. Claro que não fui convidado também, me ofereci para ser voluntário, pois, a meu ver, uma categoria forte parte da união de seus membros, que juntos, alçam-na a seus verdadeiros fins, tanto os específicos, quanto os sociais.

Encerro este desabafo na certeza de que dias melhores virão, barreiras serão transpostas, e quem sabe no próximo ano, poderei comemorar este dia festivo junto aos meus altivos colegas de batalha nesta profissão que encanta e fascina.

Só me resta, Ilustres Advogados Manhuaçuenses, parabenizá-los por esse Dia tão merecido, dizendo-lhes do meu apreço, e lhes desejando sucesso e grandes realizações profissionais. 

Não pretendo e jamais foi minha intenção ferir com palavras de injúria ou difamação uma instituição tão séria que admiro e respeito, rogo e imploro que a minha amada OAB não peque mais por desorganização e deixe de fora dos eventos os advogados portadores de limitações.

Aguinaldo Alves dos Santos OAB/MG 109.311

17/08/09 - 16:42 - portalcaparao@gmail.com

 Leia a nota oficial da OAB Manhuaçu

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