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Economia

Os 10 municípios de Minas que mais podem ser afetados pelo tarifaço de Trump ao Brasil

13/07/2025 - Atualizado em 13/07/2025 08h34

REDAÇÃO - Se concretizada, a decisão do governo dos Estados Unidos da América (EUA) de elevar em 50% as tarifas sobre produtos brasileiros vai atingir em cheio Minas Gerais, com possibilidade de desemprego e produtos encalhados. Terceiro maior estado exportador para o mercado norte-americano, Minas já embarcou mais de US$ 2,4 bilhões em mercadorias para os EUA entre janeiro e junho deste ano. Juntos, 10 municípios mineiros representam mais da metade das exportações do estado para o país liderado por Donald Trump, somando US$ 1,45 bilhão.

Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). As cidades mineiras que mais vendem para os Estados Unidos são Guaxupé, Varginha, Sete Lagoas, Araxá, Belo Horizonte, Contagem, Ouro Branco, Alfenas, Ituiutaba e Manhumirim.

A taxação de 50% começa a valer em 1º de agosto e se estende a toda a pauta exportadora brasileira. O anúncio foi feito por meio de comunicado endereçado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e postado em rede social. A medida tem repercussão direta sobre setores estratégicos, como o agronegócio, as commodities e a indústria de transformação .

No caso de Minas Gerais, o impacto é amplificado pelo perfil dos produtos embarcados. O café, um dos principais itens enviados aos Estados Unidos, tem forte presença na pauta mineira. Guaxupé e Varginha, por exemplo, concentram boa parte da comercialização externa do grão, o que reforça a vulnerabilidade das regiões ao novo cenário comercial. De acordo com MDIC, aliás, o estado é o principal estado exportador de café para os EUA.

“O Trump blefa muito. Mas uma simples fala do líder da maior economia do mundo acaba ancorando expectativas da nossa economia, que será afetada. Os mercados ficam agitados. Afinal, todos dependem do mercado externo”, afirma a O Fator o professor de economia da Skema Business School e CEO Leroy Group, Felipe Leroy.

Leroy alerta que o aumento das tarifas pode provocar uma queda nos preços internos dos produtos, especialmente no caso das commodities agrícolas. A expectativa é a de que, sem vazão para o mercado norte-americano, parte da produção seja direcionada ao consumo doméstico, pressionando os valores para baixo. Mas, diferentemente do que pode parecer, a queda no preço é uma má notícia. A redução, afinal, seria reflexo de uma diminuição na margem de lucro e uma “isca” para desovar a produção.

Na ponta do lápis

Leroy destaca que, como a retração na demanda será imediata, as companhias com alto índice de negociação junto aos EUA devem começar a rever os quadros de pessoal e a compra de matéria-prima ainda em julho.

“A tarifa é ancorada no preço. Se eu tenho uma tarifa para um determinado produto, o preço dele será elevado e a tendência é exportar menos. Consequentemente, eu fabrico menos e entrego menos”, explica.

Dessa forma, é possível que toda a cadeia dos principais produtos exportados seja atingida. O professor de administração e ciências contábeis da Newton Paiva, Franz Petrucelli, destaca o café, a soja e o minério de ferro como alguns dos produtos mais afetados.

“O impacto maior será na mão de obra, já que ela está diretamente ligada ao custo de produção. Se houver uma quebra da parceria comercial, haverá uma diminuição da oferta. E as empresas precisarão de menos trabalhadores”, afirma. Ele diz, ainda, que, para além dos motivos políticos, Trump quer valorizar o Produto Interno Bruto norte-americano.

A estratégia, no entanto, seria arriscada, já que os Estados Unidos não possuem produção suficiente dos artigos para abastecer o mercado interno. Ou seja, se os produtores brasileiros “fincarem o pé” e se recusarem a pagar a taxa, é possível que falte mercadoria nos EUA, afetando fortemente, também, a economia de Trump.

Duas saídas

Para Petrucelli, Minas Gerais terá duas saídas caso o ‘tarifaço’ realmente tenha início em agosto. A primeira seria ampliar as relações comerciais com outros países, dando vazão aos produtos que atualmente são comercializados para os Estados Unidos.

A outra, seria investir em infraestrutura. E o motivo é simples. A construção civil é um dos setores que mais gera empregos, tanto diretos quanto indiretos. Dessa forma, seria possível absorver a mão de obra que ficou obsoleta em decorrência da taxação. Além disso, parte do que é vendido para fora, especialmente do setor de minério, poderia ser usado em obras.

Em nota, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) manifestou profunda preocupação com o recente aumento das tarifas aplicadas pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros.

“A Fiemg reforça a importância do diálogo e da cooperação entre os países, especialmente em um momento em que se exige serenidade e responsabilidade nas relações comerciais internacionais. Os Estados Unidos são um parceiro estratégico para o Brasil, em especial para a indústria manufatureira nacional. No caso de Minas Gerais, trata-se do principal parceiro da indústria de transformação do estado”, diz o texto.

A Academia Latino-americana do Agronegócio (Alagro) classificou a tributação de 50% como “uma medida gravíssima e potencializa impactos severos sobre empregos, produção, investimentos e cadeias produtivas integradas entre os dois países”, aponta, em comunicado enviado à imprensa.

Cidades mineiras que mais exportaram para os EUA (entre janeiro e junho de 2025)

Guaxupé (Sul de Minas) US$ 271.167.608

Varginha (Sul de Minas) US$ 237.969.957

Sete Lagoas (Região Central) US$ 206.795.587

Araxá (Alto Paranaíba) US$ 147.094.501

Belo Horizonte US$135.853.273

Contagem (RMBH) US$ 129.752.105

Ouro Branco (Região Central) US$ 105.043.529

Alfenas (Sul de Minas) US$ 84.069.660

Ituiutaba (Triângulo Mineiro) US$ 75.195.968

Manhumirim (Zona da Mata) US$ 59.424.953

Fonte: MDIC

Tatiana Moraes / O Fator

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